A sociedade brasileira está chocada com os últimos acontecimentos no Município de Belford Roxo/RJ. Da carta deixada pelo criminoso pode-se perceber uma completa ausência de equilíbrio emocional. Mas precisamos perdoá-lo, senão vejamos.
Na chacina de Belford Roxo pouco se poderá falar de impunidade, porque no afã de tentar se livrar da insuportável culpa do que acabara de fazer e das confusões mentais que o abalavam o assassino tirou sua própria vida, punindo-se. Muito se fala da famigerada impunidade que nos assola, mas o que mais chamou a atenção em tudo que foi divulgado até agora foi a ausência de uma discussão mais profunda do que se pode fazer para evitar coisas do gênero. A resposta está na educação. Como estamos educando nossos jovens? Quais os conteúdos valorativos que estão sendo incutidos na sociedade?
Vivemos um século de avanços nos conceitos universais dos direitos humanos, não se tem mais dúvida de que toda a humanidade, independente de credo, cor ou raça pugna pela paz, pelo amor fraterno entre as pessoas e pelo bem, que pode objetiva e simplesmente ser considerado como não se fazer com o outro o que não desejamos que façam conosco. É imprescindível que o ensino intelectual seja profundamente modificado para se tornar mais valoroso, não apenas do ponto de vista econômico, mas no aspecto social também.
Para tanto necessitamos urgentemente que a reforma educacional passe a impor a criação de matérias próprias voltadas para o aperfeiçoamento da inteligência emocional, tão bem defendida por Daniel Goleman, das múltiplas inteligências defendida por Howard Gardner e dos valores espirituais universais como a caridade, ética, amor, paz, harmonia e sustentabilidade.
Estudos científicos já demonstraram que o cérebro humano é essencialmente dividido em três partes bem definidas, no que concerne à construção do conhecimento. Então, para que se possa considerar de fato um ser inteligente, a pessoa deve exercitar suas competências intelectuais, emocionais e práticas. Apenas a competência intelectual vem sendo exercitada e cobrada nas escolas e concursos públicos. O resultado é um pernicioso desequilíbrio.
O curioso é que passamos anos ensinando os nossos jovens a estrutura química da bolha de sabão, fórmulas complicadas da física, equações complexas da matemática, mas não gastamos um centavo público ou privado sequer para ensinar nossos jovens a serem amorosos, pacíficos e respeitadores do direito alheio. Não se ensina o domínio sobre as próprias emoções, não se ensina quais são emoções precisam ser cultivadas e quais outras precisam ser transformadas. Em suma, estamos nos transformando numa sociedade partida, em seres incompletos, não integrais.
Uma interessante proposta de mudança educacional foi lançada pela Unesco através do relatório Jacques Delor. Trata-se da educação do ser integral baseada no aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Entre nós, expoentes visionários do bem já se esforçam para fazer valer tais mudanças e para enriquecer o conteúdo educacional, como o professor e sociólogo Denizard de Souza que em sua obra “Em Busca do Ser Integral, ressalta: “A Educação do Ser Integral contempla a aprendizagem para convivência, isto é, uma educação para a Cultura de Paz. Dessa forma, educa-se para o equilíbrio das relações humanas (interpessoais, de gênero, de grupo), macrossociais (entre classes, organizações, culturas e povos) e ambientais (da sociedade humana com as demais espécies do ecossistema planetário).”
Será que o assassino de Belford Roxo tivesse cursado uma educação integral teria feito o que fez? O que nos trará mais resultados enrijecer nossas leis penais para reduzir a impunidade ou ensinar melhor nossos jovens para que não precisem ser punidos?
No caso, não perdoar o assassino é cultivar emoções destrutivas para si e para os outros! Transformemos então nossas revoltadas em ação produtiva, vamos mudar nossa educação!
Termino este artigo com uma famosa frase do Papa João Paulo II: “Não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão”, que arriscaria acrescentar o seguinte: … e não há perdão sem amor; mas quem vai nos ensiná-lo?
Fonte: Revista Consulex
Cristiano de Freitas Fernandes é advogado especialista em Direito Empresarial, sócio da Advocacia Fernandes Alves Candeia, professor de Direito Empresarial e Vogal da Junta Comercial do Distrito Federal.